Em Moko no Brasil escrevi sobre Brasília:
"Ryû, irmão de Moko, passaria uns dias em Brasília. Queria conhecer uma cidade construída nos anos 60, futurismo retrô sujo de barro vermelho, como viu nas fotos de um livro sobre “Grandes Construções da Humanidade”, usado como referência na concepção de cenários para a criação de seus games. A catedral era a sua construção preferida – uma coroa tamanho colossal de um vilão qualquer de Star Trek caída no chão de um deserto africano.
Enquanto andava pelo plano-piloto, por trilhas formadas nos canteiros pela insistência de inevitáveis pedestres, Ryû pensava que todos aqueles prédios lindos deveriam estar no Rio de Janeiro, sim, lá deveriam ser construídos, de frente para o mar, naquele lugar horrível depois de um túnel imenso, qual era mesmo o nome? Barra, isso, Barra, todos aqueles prédios na Barra. Virada para o mar, a Esplanada dos Ministérios, na beira da praia a catedral fincada na areia.
Ryû redesenhou a sua Brasília à beira-mar, desejando liberá-la do cerrado e da falência modernista."
Se tantos concordam que Brasília é uma idéia de gerico e que a capital deveria voltar ao Rio (ou outro lugar, que seja) por que ninguém fala nisso concretamente? Basta alguém querer. O sonho urbansita do japonês Ryû não é apenas um capricho estético. Marshall Bermann diz hoje no Mais: "Os moradores ( de Brasília) viram que era um desastre levar a vida em uma cidade cujos segmentos não interagem. (...) Brasília é construída de modo a evitar que as pessoas se encontrem. Perde-se muito do excitante, do especial, da vida moderna."
O texto de Moravia quando da visita a cidade em construção é exemplar: "Brasília foi construída por vontade de Kubitschek, que é um presidente democrático, para um Brasil democrático.Mas a observação daqueles edifícios que se elevam como torres no meio de enormes espaços vazios faz pensar em lugares e monumentos de antigas autocracias, por exemplo em Persépolis, que tinha suas colunas gigantescas em frente a uma planície não muito diferente daquela de Brasília.A atmosfera ditatorial é, por outro lado, confirmada pela solidão metafísica dos lagos de asfalto em que surgem os edifícios. Essas solidões urbanas antecipadas nas perspectivas surrealistas de De Chirico e Salvador Dalí expressam muito bem o sentido de mistério e desorientação que o homem moderno sente diante dos poderes que o governam. Fica claro que estamos diante de uma explosão barroca mascarada de funcionalismo."
E o que fazer com o lugar, quando a capital do país for transferida? Nada ou projetos não faltarão.