quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Domenico Modugno, La Lontananza, 1970

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Nós olhávamos
queríamos permanecer abraçados,
mas com um sorriso acompanhei você
pela estrada de sempre
a beijei como sempre
e lhe disse docemente:
a distancia sabe é como o vento,
apaga os fogos pequenos
acende aqueles grandes.
Aqueles grandes.

A distancia sabe que é como o vento
que faz esquecer quem não se ama.
Já passou um ano e é um incêndio
que me queima a alma.

"la lontananza sai, è come il vento / spegne i fuochi piccoli, ma accende quelli grandi . . . quelli grandi."

Quarta em SP

Offiicina Profumo Farmaceutica di

Santa Maria Novella, Casa fondata nel 1612

Rua da Consolação


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Loja Isabela Capeto, Rua da Consolação

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Felipe Veloso, Congonhas

+ Jen Davis


Sr. R no Porta Literal

Rumo à Groenlândia para ver o fim do mundo
por Bruno Dorigatti

"Vou lá. Vou ver o começo do fim", diz o Sr. R
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Sr.R é um improvável documentarista octagenário, carioca que já rodou o mundo trabalhando e agora, como que para animar o fim de sua vida, decide acompanhar de perto o degelo das calotas polares na Groenlândia. Isso mesmo. E, nos preparativos da viagem, vamos acompanhando e conhecendo um pouco mais sobre essa figura, sua amiga Camélia, o cachorro desta, Dollo, e o narrador, que partirá igualmente com seu amigo, cúmplice e companheiro rumo ao extremo norte do planeta enquanto ainda há tempo. A prosa poética envolvente, irônica, humorística por vezes, de Alberto Renault – conhecido por seu trabalho em direção, roteiro e cenografia para óperas, teatro, moda e tv – prende a leitura, junto com um certo estranhamento, neste curto romance que se lê de um só fôlego. Segundo Fernanda Torres, na orelha do livro, "muitas vezes, temos a impressão de que não vale a pena fazer parte de um mundo vil e muito menos de enfrentar as atribulações da velhice, com suas gotas, dores reumáticas e doenças degenerativas. O Sr. R é a contramão desse sentimento; uma injeção de aventura, coragem, delicadeza humor, amor, sexo e generosidade".Eclético, o octagenário “gosta de navios cargueiros, povos distantes, filosofia oriental, mais indiana do que chinesa, e conhece de cor todas as músicas do Gonzagão. Esse é o Sr. R, um Câmara Cascudo do universo. Um Gilberto Freyre globalizado. Um Mario de Andrade virtual. O Thomas Friedman de um mundo plano furado feito um queijo gruyère. O Peter Singer da ética cotidiana. O Manuel Bandeira das palavras disfarçadamente singelas”, escreve Alberto Renault sobre a figura caquética e ao mesmo tempo vigorosa, “um homem pela qual a sua filha se apaixonaria – mesmo como ele está agora, já meio ceguinho, já se apoiando e fazendo caminhada entre a sala e o banheiro um passeio”.Longe de qualquer intenção realista, apesar da inegável urgência do tema cada vez mais presente e constante em nossas vidas – ontem, por exemplo, foi anunciado por pesquisadores britânicos que as geleiras da Groenlândia estão perdendo 9 metros de profundidade por ano desde 2003 –, Alberto Renault utiliza o aquecimento global para tratar de outro fim. Aqui a abordagem é outra, unindo a metáfora do fim da vida e do fim de uma vida. “Eu diria que o Sr. R (Aeroplano, 2009) é uma fábula. Não é uma narrativa realista. Esse personagem não está em busca apenas do desmanche. Ele está em busca da (sua) vida que está ‘derretendo’. Ele busca com essa viagem ‘congelar’ o tempo – viver eternamente. Mais do que ‘o fim do mundo’ o que me impressiona é o ‘fim deste mundo’. Passei a olhar para os velhos também – para o ‘fim’ da vida, de uma era, de um tempo. É inegável que estamos vivendo uma grande transformação. Uma nova atitude face a vida deveria estar surgindo. Minha inspiração é a época que estamos vivendo”, conta Renault. A morte, um assunto tão caro para Renault, é um dos temas do livro, o aniquilamento travestido no aquecimento global. “Não trato do assunto aquecimento global de maneira científica – nem tenho conhecimentos para isso, mas não preciso ser um cientista para afirmar que o aquecimento e o desmanche das calotas polares estão acontecendo”, conta.Mais que uma prosa poética, Renault considera o livro um poema em prosa, onde, dentro das maiores catástrofes, o drama individual humano não cessa. “Seja em que época for, seja qual for o pano de fundo social ou histórico, o homem continua vivendo sua ‘vidinha’. Acho que olhando o último iceberg derretido, vendo a Amazônia tornar-se cerrado, o homem ainda vai apaixonar-se, vai sentir saudade da mãe morta; seu coração ainda pode disparar de amor no meio de um incêndio...”Sem ser melancólico, a pequena e enxuta narrativa é muito permeada pelo humor, a ironia, e até um deboche sobre o alardeado fim dos tempos e este eterno adiamento de tratar a sério a questão, como neste trecho:“No forno, está guardada parte de sua coleção colossal da revista Geográfica Universal. A metáfora do mundo assando no forno, ele só percebeu quando perguntei onde estava um número especial sobre a Amazônia que queria emprestado, e ele respondeu com uma pausa tchecoviana, e, logo depois, às gargalhadas: ‘A Amazônia está no forno!’”No fundo, uma ode à vida, crê Renault. “O Sr. R tem quem goste muito dele, quem o ame. E ele tem carinho pela vida também. Tem curiosidade. Tem infindável curiosidade. Tem criatividade face a vida. Procura sensações. Mas não vejo nele um modelo – vejo suas fraquezas também. E às vezes mais que um personagem esse Sr. R representa para mim o desejo de viver, de ‘sofrer’ tudo que a vida oferece e o que podemos também nos oferecer. Gosto muito de viver. Muito. E acho que faço bem isso – não gostaria que acabasse. Fico triste quando sinto que uma festa boa está caminhando para o fim...”Sr. R (Aeroplano, 2009) é seu terceiro livro, depois de A foto (Objetiva, 2003) e Moko no Brasil (Aeroplano, 2006), estes último com uma abordagem mais pop, em uma história que entrelaça jovens cariocas e japoneses no Rio de Janeiro. A narrativa, assim como em A foto, se aproxima de outras linguagens, como a televisão. O que mudou na feitura entre os dois primeiros livros e Sr. R ? “Apesar dos personagens velhinhos e de uma linguagem por ora mais poética ainda acho que minha abordagem é pop no sentido que mixo elementos e linguagens. Cito Nair Belo, Cauby Peixoto e Bach quase na mesma página. Falo de sushi e de santos medievais. O personagem dá a volta ao mundo buscando placas de ruas. Salto no tempo entre o passado, o presente e o imaginado futuro dos personagens. Acho que a linguagem deste livro é a de um monólogo dito em voz alta. Ouço a voz da narrativa. Não acho que mudei tanto – acho que ainda trabalho através de fragmentos e cenas curtas. Acho que é o mesmo vinho de outra safra”, acredita Renault, que trabalha na televisão, escrevendo em dirigindo séries – como “Minha Periferia”, “Muvuca”, “Brasil Legal”, “Um pé de quê?”, “Nomes da moda” –, dirige óperas, faz cenários para desfiles de moda. E como esses trabalhos dialogam com a literatura? “Acho que todos os meus trabalhos dialogam entre si – no sentido que crio imagens. Sr. R é um livro ‘de imagens’. Não tenho muito a tendência à psicologia. Acho que existe sempre um cenário, uma imagem para o leitor (ou espectador) construir visualmente a partir de minhas palavras. A literatura me dá a possibilidade de ‘narrar’ – acho que meus cenários, minhas cenas documentais na TV, todos os outros trabalhos sempre buscam criar um ‘sentimento’ e uma ‘narrativa’ – acho que sou ‘afetivo’ nas minhas criações. A literatura me deu afeto.” Afeto e, poderíamos acrescentar, lirismo para refletir um mundo que caminha para auto-destruição, conforme nos diz, à certa altura, o narrador: “Em mil e trezentos anos, nunca antes tão quente.Animais que deveriam hibernar estão alertas.Flores agora escancaradas estariam fechadas e cobertas por neve em outra época do ano.A montanha branca está verde.”

Disfarçado em Tóquio

terça-feira, 29 de setembro de 2009

2 Imagens + Sr. R no Estadão

Caspar David Friedrich 1823-1824
Naufrágio da Nau Esperança
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Poética _ Manuel Bandeira

Eu (criança) cortando o cabelo na Pça General Osório.
Não sei qual a relação entre o poema e a foto.
Deve haver.


Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador

Político

Raquítico

Sifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbados

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare -

Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Craig Ward

Kutaa!*

*Kutaa = Olá, Bom dia!, em groenlandês.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sang Bleu Magazine

Efrain no Quintal

Admiro muito a obra de Efrain Almeida e tive a sorte de conhecê-lo numa situação especial: na gravação de um documentário no Japão no ano passado. Fomos juntos ao inesquecível outono de Kyoto. Ele tornou-se personagem do filme e eu passei a gostar mais (ainda) da obra dele.
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"A trajetória de Efrain é fortemente marcada pela observação de dois ambientes familiares: a marcenaria do pai e o jardim da mãe na casa de Boa Viagem, interior do Brasil. Dali, o artista retira tanto o ofício e a materialidade de sua produção, a madeira umburana, plantada nos terrenos da família, quanto ultrapassa os limites geográficos e conceitua de forma contemporânea a idéia de natureza. Na exposição Quintal, Efrain apresenta-nos uma riqueza de tratamentos diferenciados na madeira. Compõem a exposição um conjunto de 22 mariposas que já foi exposto em Tókio e Portugal e chega, pela primeira vez, ao Brasil, além de outras esculturas: Assum Preto, escultura com dois pássaros ligados por um fio de canutilhos vermelhos; oito pintinhos e um pequeno galho, todos em umburana. Completa a mostra um trabalho em gravura feito no Cariri com xilogravadores para o Clube de Gravura do MAM de São Paulo."

Primeira praia da primavera 2009

Minha amiga Marcia me enviou o email abaixo:
That's the way!
A praia de Ipanema foi eleita o melhor destino turistico de toda a América do Sul.
Para quem não foi ao primeiro domingo de praia da primavera 2009, envio imagens do
POSTO 9 - IPANEMA/RIO.
Sem dúvida, a sequência do homem (carregador de latas), é impressionante.
Chamei de "esforço de reciclagem".E que esforço! (observem que usa um saco de colchão para recolher as latas!!!) Devia pesar uns 40 kilos! Não muito menos que ele. Andava alguns metros, parava, abria a boca do saco e recolhia todas as latas que haviam disponíveis na área. Depois retomava e assim foi ...
Em uma das fotos, repousa -exausto- após uma pequena caminhada. Depois levanta-se, passa por mim e, ao perceber que o fotgrafava, me diz, com o sorriso estampado e muita simpatia: fique à vontade!
E, claro! é Flamenguista!!!!
Valeu a praia toda!
VIVA ELE!!!!
Beijos a todos e uma ótima semana!!
Marcia Fosco

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Fotos Marcia Fosco

Sr. R está em São Paulo


Damian Ortega



Ortega na Barbara Gladstone Gallery, NY
Presente de Alexandre Gabriel

domingo, 27 de setembro de 2009

100 + vistos em quase 4'

Um restaurante: Shin Zushi




Rua Afonso de Freitas, 169, Paraíso, São Paulo

Good bye, Pina

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Despedida. Final da Sagração da (na) Primavera de Pina Bausch, Teatro Alfa, São Paulo,
26 de Setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

Um filme: La maman et la putain


de Jean Eustache, 1973

Gabriela Machado

Gabriela Machado lança livro(s!) na Argumento/Leblon. 28 de Set. 19h.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

La Gatta - italiana



La Gatta
Gino Paoli
C'era una volta
Una gatta
Che aveva una machia nera
In suo muso
A una vecchia soffita
Vicino al mare
Con´una finestra
A un passo dal cielo blue

Se la chitarra suonavo
La gatta faceva le fusa
Ed una stellina
Scendeva vicina, vicina
Poi me sorrideva e si ritornava su

Ora non abito più la
Tutto è cambiatto
Non abito più la
Ho una casa bellissima
Bellissima come vuoi tu

Ma, io ripenso a una gatta
Che aveva una macchia nera
Suo muso
A una vecchia
Soffita vicino al mare
Con una stelina
Che ora non vedo più

Ora non abito più la
Tutto è cambiatto
Non abito più la
Ho una casa bellissima
Bellissima come vuoi tu

Ma io ripenso a una gatta
Che aveva una macchia nera
Suo muso
A una vecchia
Soffita vicino al mare
Con una stelina
Che ora non vedo più

Dois cavalos - franceses

Pierre Mignard (1612-1695)
"Luís XIV coroado pela vitória"
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Fuzi /Ignorant Master
"Nascido para revolucionar o inferno!"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

My husband

Model Husband Series by Kate Hutchinson
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Kate Hutchinson fotografa o marido sem parar. Mantém um blog com fotos (lindas) do cotidiano, dos utensílios, da piscina - um cotidiano sexy, colorido e arejado.

Mani

Na luz da janela

Veermer, 1668
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Jen Davis

1 + 1 = 2

Jacopo Benassi

Howard Christopherson




Isto em palavras

“Em algum lugar do outro lado desta vasta noite
E da distância que existe entre nós dois, eu penso em ti.
A sala nua lentamente afasta-se da lua.
E é agradável. Ou devia riscar tudo isso e dizer
que é bem triste? Pois seja como for eu canto
uma impossível canção de desejo que não podes ouvir.
Lá lá ri lá. Vês? Fecho os olhos e imagino os negros montes que teria de cruzar
para alcançar-te. Pois eu te amo.
E o caso todo é este ou é isto em palavras.”

Trecho do poema Vasta Noite (Wide Night) de Carol Ann Duffy traduzido por Ivo Barroso

Mira Schendel, 1960

Yang Zhenzhong


D'accord?


Karl & Lily


Lucas Arruda + Carolina Cordeiro + Rhys Mendes

(Nova!) Galeria Rhys Mendes
Rua da Consolação, 3368 - Jardins - São Paulo/SP.
Até 18 de outubro (também Carolina Cordeiro com seus 100 tabuleiros, farinha e óleo.)
http://www.rhysmendesgallery.com/

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Belém do Pará e Versailles

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Aberto ao público depois de longa reforma – com aclamada acústica e dourados esfuziantes – o Teatro Royal de Versailles volta à cena celebrado pela nação francesa orgulhosa de si.
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O Teatro da Paz, em Belém, onde, eu, feliz, encenaria Júlio César de Haendel - depois dos ensaios passearíamos pela praça e tomaríamos sorvete. A vida pareceria simples em Belém. E ainda iríamos, exaustos, a uma Festa de Aparelhagem, dizem, animadíssima.
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