sábado, 22 de agosto de 2009

4 atrizes

Maria Casarès

Fui assistente numa montagem da peça Elle de Jean Genet (direção de Bruno Bayen/Théatre de Gennevilliers/Paris). Maria Casarès (A bela do Bois de Boulogne de Bresson) representava o Papa. O mesmo papel que anos depois Zé Celso representou. Eu tomava o seu texto antes do ensaio. Com voz rouquíssima e gravíssima ela dizia a cada branco, me olhando severamente como que buscando nos meus olhos a palavra esquecida: "- não fala, não fala, não fala". Eu tentava aflito dizer-lhe com os olhos. Longos silêncios. Eu ficava gélido. E no final derrotada, ela dizia: "vai, fala, pode falar". Eu dizia a palavra esquecida e ela gritava: "Eu sabia! Eu sabia! Por que raios eu não disse?" e batia na própria cabeça. O papel exigia que ela ficasse de joelhos. E eles doíam imensamente. Eu a ajudava sempre a se levantar. Comíamos sanduíche de queijo na pausa. Eu estava tão feliz. Ela morreu em 1996.


Edwige Feuillère

Assisti a última apresentação do espetáculo de despedida da atriz Edwige Feuillère. Era o seu adeus definitivo. Um espetáculo colagem de vários textos e anedotas de sua longa carreira. Ela estava velhinha. Era uma matinée de domingo. O teatro estava abarrotado. Muitos velhinhos como ela e todos os atores possíveis e imaginários, famosos e iniciantes. Quando terminou o espetáculo ela disse lentamente diante da cortina fechada e de braços abertos: - "Adieu!" O teatro de pé durante uma eternidade a aplaudiu. Todos choravam. Muitos senhores na frente do palco jogavam-lhe flores. Foi o mais emocionante adeus que presenciei. Fui a outros. Adoro despedidas. Edwige Feuillère morreu em 1998.



Jeanne Moreau
Eu trabalhava como assistente numa montagem de Torquato Tasso de Goethe no Théâtre de L'Odeon. Ensaiava na sala de ensaio e no palco principal Jeanne Moreau ensaiava uma remontagem de La Celestine. O ensaio dela começava antes do meu. A sala de ensaio do Odeon era no último andar e pelo corredor eu tinha acesso a galeria do teatro. Eu sentava imóvel no teatro vazio, bem perto da cúpula pintada por Chagall e lá embaixo estava ela, com a voz inconfundível, amada por Jules e Jim, ensaiando, trabalhando.

Edith Clever
Assisti a atriz alemã dirigida por Hans Jurgen Sybergberg interpretar a Marquesa D'O na Salle Favart. Nunca esqueci. Ela parecia um cisne.