terça-feira, 10 de novembro de 2009

Torquato Tasso, Goethe

A ação de passa em abril de 1575 no castelo de Beriguardo, residência de verão dos duques de Ferrara. Nesta cena abaixo a princesa Leonora d'Este (vide Carlo Gesualdo) e a condessa de Scandiano, também Leonora, estão conversando sobre o poeta Torquato Tasso. Estamos no primeiro ato. O poeta ainda não entrou em cena. Aprendemos pelo diálogo que trata-se de uma figura especial - um artista, um poeta. Tasso é figura curiossíssima: "...esteve várias vezes recolhido em conventos e manicômios, e foi, numa dessas ocasiões, que lhe roubaram os manuscritos do seu poema maior "Gerusalemme Conquistata", publicado sem sua autorização. O poema suscitou vivas polêmicas, que agravaram ainda mais o estado do poeta. Doente e na miséria passou a mendigar proteção e favores ora numa côrte, ora noutra, recebendo já no último ano de sua vida, a graça duma pensão papal." A peça de Goethe é magnífica.

Leonora:

"Compreendo Tasso;
seu olhar não vê essa terra,
sua audição capta a consonância da Natureza.
O que a história nos oferece,
o que a vida nos dá, ele colhe:
seu espírito reúne a diversidade
e seu coração anima a matéria.
Ele enobrece o ordinário,
e aos seus olhos o que apreciamos não é nada.
O homem maravilhoso nos convida a caminhar
ao seu lado, e a dividir;
quando parece se aproximar, à distancia se detém,
parece fixar-nos mas são espíritos o que vê.
(...)
Não é a nós que ele ama – perdoe se o digo!
Em todas as esferas ele recolhe o que ama,
Transportando-o para um só nome, o nosso,
para que possamos dividir o que ele experimenta;
acreditamos amá-lo, mas só amamos o
ideal que podemos amar."




Na imagem, Tasso declama seu poema para as Leonoras...Adoro também uma das falas finais de Tasso, quando já é considerado um louco:

Tasso:

"Sou miserável como pareço? Fraco como se vê? Tudo está perdido? A Terra terá tremido? Não, tudo está aqui, e eu não sou mais nada; perdi-me perdendo a princesa."

Na pintura de Luigi Mussini (1813 – 1888) Tasso lê seu poema para Leonora D'Este.

Este trecho final cito no meu livro, Sr. R:

"A natureza deu-nos as lágrimas, o grito de dor, quando o homem, no fim, não suporta mais - mais ainda, ela me deu, para lamentar esse abismo de miséria, a melodia e a linguagem; e se o homem cala sua dor, um deus permitiu-me dizer o que sofro."

Na imagem, Tasso repreendido pelo Primeiro Minsitro do Duque.

traduzi a partir da versão francesa de Bruno Bayen - fui assistente de Bruno numa montagem desta peça em Paris (1989), numa produção da Comédie Française com Muriel Mayette, Catherine Hiégel e Marcel Bozonnet. Muriel hoje é a "presidenta" da Comédie.