"Insone, debruçado na janela e no escuro, entre o calor que entrava e o frio que saia do quarto, olhava as poucas vidas acordadas dentro dos outros apartamentos. Um em frente, mais alto, mantinha a TV sempre ligada com luz tremulante e azulada, um outro, um dos poucos sem ar condicionado, tinha uma luz fria e um ventilador de teto. Ali – uma puta morava – ele tinha certeza – vendo o vulto fumar como ele na janela – sempre tarde, já madrugada. Naquela época, era para ela, para aquela mulher que fantasiava uma longa história que o levava a gozar. E foi dela que um dia ele se aproximou quando caminhava na Atlântica de noite, era ela fazendo ponto, era ela o vulto. Quando estava pertinho, ouviu: E então? Vamos fumar esse baseado juntos um dia? Quando entrou no apartamento do ventilador de teto e luz fria correu para a janela para ver o ponto de vista da vizinha insone. A sensação que teve foi a de ter entrado dentro de um espelho, vendo às avessas o que durante toda a vida tinha visto de um só jeito, de um só lado."
Escrevi este trecho do meu livro A Foto lembrando dos fundos dos prédios em Copacabana mas imagino também que tenha escrito inspirado na configuração do prédio onde morava Sophia Loren e Marcello Mastrioianni no filme Una Giornatta Particulare, de Ettore Scola.
Nunca esqueci daquele pátio romano.
Achei essa foto no flickr ( na galeria de gnegnabaffa) que me fez viajar para aquela Roma instantaneamente: