sábado, 19 de dezembro de 2009

Equador/ Henri Michaux

Henri Michaux
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Se me desafiassem agora com a ultrajante pergunta: eleja um livro - apenas um só!? - Eu responderia:
Equador de Henri Michaux. Justificaria minha escolha dizendo que nesta obra li sobre a vida sem os artifícios da ficção - apenas a crueza poética da realidade de um diário de viagens.
Gosto muito de Henri Michaux - seus versos e desenhos, caligrafias como que as japonesas.
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"O Equador é reto e hirto. Só às cinco ou às seis horas da manhã, estando o sol baixo no horizonte, há sombra, momento em que o Equador perde a sua dureza. A escuridão deita-se nas ravinas como nos nossos sítios, a montanha suaviza a planície, os caminhantes arrastam atrás de si os seus bocados mais preguiçosos, até os vagões tomam uns ares amolecidos, afetados, distraídos: é a Sombra, a Sombra. Mas isso depressa acaba. O sol toma altura, recompõe-se rapidamente, encarniça-se contra todas as sombras. E em breve só temos sombra debaixo dos pés. A justiça implacável do Equador está de regresso."
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