sexta-feira, 24 de julho de 2009

Pata de Caranguejo


“Jacqueline Cascorro, a protagonista desta história, conheceu durante boa parte da vida as experiências conjugais de costume: brigas, arroubos, infidelidades, crises e reconciliações. Tudo mudou quando, ao quebrar uma pata de caranguejo e ouvir uma garrafa de chamapgne sendo aberta às suas costas, se deixou dominar por um pensamento que depois retornaria de modo intermitente, transformando-a, para sempre, numa mulher de idéias muito más.” Li esse livro em preto-branco vestindo os protagonistas como personagens de Antonioni revistos por Nelson Rodrigues. A cena da pata de caranguejo volta algumas vezes na narrativa e Jacqueline vai ficando realmente muito má. Se passa no México, mas poderia ser no subúrbio da Falecida ou na Itália urbana do Eclipse. “Tudo mudou quando ao quebrar uma pata de caranguejo...”. A descrição da ação, tão pouco psicológica, confere a cena um caráter fílmico. “Tudo mudou quando ao quebrar uma pata de caranguejo...”. Existem gestos cotidianos que podem nos fornecer alguns pensamentos fundamentais. Tudo começou quando ele mergulhou aquela madeleine naquela taça de chá ou quando a mãe demorou para dar-lhe boa-noite.
Grandes transformações podem começar entre sussurros e detalhes. O livro da pata de caranguejo chama-se Vida Conjugal de Sergio Pitol (Companhia das Letras). A foto é do filme no qual plantei minha leitura: O Eclipse.