As lembranças do Brasil, diz Paul Claudel, que serviu aqui como diplomata por volta de 1917, ajudaram-no a escrever a peça Le Soulier de Satin, talvez a mais longa separação amorosa da dramaturgia mundial: o casal protagonista apenas se entrevê e depois passam as mais de 11 horas da peça se procurando pelo mundo! O drama acontece em torno do globo na busca desse amor. A lembrança do Brasil teria temperado o drama épico de Claudel apesar da ação não fazer referência ao país.
Foi o Rio dos anos 10 do século passado que Claudel conheceu:
Assiti a versão do diretor Antoine Vitez para o Le Soulier de Satin e também o filme de Manoel de Oliveira. Na foto abaixo a cena de Dona Prouèze com o Anjo da Guarda na montagem de Vitez:
"Prouèze: O que você espera para me fazer morrer?
Anjo: Espero que tu consintas.
Prouèze: Eu consinto, consenti!
Anjo: Mas como podes consentir em me dar o que não te pertences!?
Prouèze: Minha alma não é mais minha?
Anjo: Você, na noite, não a entregou a Rodrigo?"
O amor de Prouèze e Rodriguo fica entre a distância e o impossivel.
Anjo: Espero que tu consintas.
Prouèze: Eu consinto, consenti!
Anjo: Mas como podes consentir em me dar o que não te pertences!?
Prouèze: Minha alma não é mais minha?
Anjo: Você, na noite, não a entregou a Rodrigo?"
O amor de Prouèze e Rodriguo fica entre a distância e o impossivel.
Dessa impossibilidade surgem versos:
"Prouhèze: Ele pediu Deus a uma mulher e ela era capaz de lhe dar, pois não há nada no céu e na terra que o amor não seja capaz de dar!
Lua: Tais são as coisas que ela diz no seu delírio.
Agora só há paz, a hora é meia-noite,
ela fala e eu lhe beijo o coração!"
"Prouhèze: Ele pediu Deus a uma mulher e ela era capaz de lhe dar, pois não há nada no céu e na terra que o amor não seja capaz de dar!
Lua: Tais são as coisas que ela diz no seu delírio.
Agora só há paz, a hora é meia-noite,
ela fala e eu lhe beijo o coração!"
Vejo a igreja aberta e entro. Mas não é para rezar, ó Mãe, que estou aqui dentro.
Não tenho nada a pedir, nada para te dar.
Venho somente, Mãe, para te olhar (...)
...Nada dizer, olhar simplesmente teu rosto,
e deixar o coração cantar a seu gosto.
Nada dizer, somente cantar, porque o coração está transbordando...
Porque és bela, porque és imaculada, a mulher na Graça enfim restituída, a criatura na sua hora primeira e em seu desabrochar final, como saiu das mãos de Deus na manhã de seu esplendor original.
Intacta inefavelmente porque és a Mãe de Jesus Cristo, que é a verdade em teus braços, e a única esperança e o único fruto.
Porque é meio-dia, porque estás aí, simplesmente porque és Maria,
simplesmente porque existes.
Paul Claudel "existe" em Ipanema. A Praça Paul Claudel é um canteiro cimentado onde talvez nem caibam todos os livros que escreveu. Fica no Jardim de Alá esquina com a Barão de Jaguaribe. ( Talvez a colocação das placas esteja errada e a continuação da praça devesse chamar-se também Paul Claudel no plano original). As palavras de Claudel do começo do século passado ainda valem apesar das desastrosas intervenções humanas: “O Rio de Janeiro é a única cidade das que conheço que não conseguiu expulsar a natureza”. Amém.