sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sossego

No final do século 16, numerosas epidemias de peste matavam na França. Em 1606 uma fortíssima devastou Paris. Henri IV decidiu construir um hospital destinado aos contagiosos. Convocou o arquiteto Claude Vellefaux – o mesmo da famosa Place des Vosges.

O prédio ainda funciona como hospital – no 10ème.
Ao lado da construção antiga, existe hoje um anexo moderno e feio.
Nos anos 80, eu vinha ao pátio interno do Hospital Saint Louis estudar com um ator – Jean Marie Patte - o texto de um monólogo onde ele atuava e eu era assistente do diretor do espetáculo.
Ele me apresentou o lugar – sua calma, silêncio, serenidade e beleza.

Ontem, voltei ao pátio, sempre deserto – contrariamente a Place de Vosges cada vez mais tumultuada e ocupada por turistas.
Na época em que foi construído, o Hospítal estava fora dos muros da cidade. Hoje em plena Paris - parece que literalmente viajamos no tempo ao passar por um dos pórticos que dão acesso ao pátio: E lá dentro - de repente - um silêncio maravilhoso, uma acústica que reproduz os passos pelos quatro cantos do lugar. Ninguém. Nada. Apesar da circunstância trágica no qual foi construído – apesar de pensar que tantos morreram ali – apesar de saber que muitos ainda sofrem ou renascem no prédio ao lado – talvez por tudo isso – esse lugar silencioso ofereça tanto para se sentir e pensar. Um lugar feito para curar, para refletir sobre a fragilidade da vida. Uma espécie de templo:Na mais de meia hora que fiquei ali – longe da cidade e do tempo – apenas uma companhia no pátio imenso: esse senhor não mudou de posição sentado num banco – imóvel – estaria pensando em alguém internado? Acabara de receber a notícia de uma morte, de uma doença trágica? Ou assim como eu – ele estava tomado pela paz do lugar? Queria ele, como eu – apenas o sossego?