Nos anos 80, eu vinha ao pátio interno do Hospital Saint Louis estudar com um ator – Jean Marie Patte - o texto de um monólogo onde ele atuava e eu era assistente do diretor do espetáculo.
Ontem, voltei ao pátio, sempre deserto – contrariamente a Place de Vosges cada vez mais tumultuada e ocupada por turistas.
Na época em que foi construído, o Hospítal estava fora dos muros da cidade. Hoje em plena Paris - parece que literalmente viajamos no tempo ao passar por um dos pórticos que dão acesso ao pátio: E lá dentro - de repente - um silêncio maravilhoso, uma acústica que reproduz os passos pelos quatro cantos do lugar. Ninguém. Nada. Apesar da circunstância trágica no qual foi construído – apesar de pensar que tantos morreram ali – apesar de saber que muitos ainda sofrem ou renascem no prédio ao lado – talvez por tudo isso – esse lugar silencioso ofereça tanto para se sentir e pensar. Um lugar feito para curar, para refletir sobre a fragilidade da vida. Uma espécie de templo:Na mais de meia hora que fiquei ali – longe da cidade e do tempo – apenas uma companhia no pátio imenso: esse senhor não mudou de posição sentado num banco – imóvel – estaria pensando em alguém internado? Acabara de receber a notícia de uma morte, de uma doença trágica? Ou assim como eu – ele estava tomado pela paz do lugar? Queria ele, como eu – apenas o sossego?