domingo, 31 de janeiro de 2010

Formigas, maturidade, verdade & poesia

“Formigas doentes preferem morrer na solidão” (Ricardo Mioto/Folha Ciência de sábado). O artigo diz mais ou menos assim: “Quando sente que vai morrer, a formiga abandona o formigueiro. Passa os últimos momentos na solidão. Quase ninguém, na natureza, morre de velho. Grandes grupos de seres idosos são uma anomalia histórica criada recentemente pelos humanos. Na vida selvagem, morre-se muito antes de envelhecer. Em geral, a razão é alguma doença, muitas delas transmissíveis. Imagine quantas vezes você já teria ficado à beira da morte se, como as formigas, não tivesse acesso à medicina. A questão é que sociedades são o cenário perfeito para que doenças transmissíveis se espalhem. Como formigas são seres que vivem em complexas sociedades, afastar-se durante a doença é uma maneira muito eficiente de evitar que mais animais se contaminem no formigueiro. Em termos evolutivos, formigas que tem esse comportamento beneficiam a sobrevivência de toda a comunidade e, assim, de vários dos seus próprios genes. As formigas doentes não são atacadas por outras ou forçadas a abandonar os formigueiros. Elas simplesmente vão embora por 'vontade' própria.”
Outra ideia que me chamou a atenção foi que ninguém na natureza “morre de velho”.
Por falar em envelhecer o artigo do Drauzio Varella também é ótimo – o avô brincando com o neto me lembrou muito a Dona Vê redescobrindo a vida com o neto, no meu livro A Foto.
A descrição de Drauzio da maturidade:
“A aceitação de que não temos diante de nós todo tempo do mundo cria o desejo de nos concentrarmos no essencial, em busca do máximo de felicidade que pudermos observar no futuro imediato. A inquietude da inexperiência e os desmandos causados por ela dão lugar à busca da serenidade.”
Pra terminar, e por falar em serenidade, outro bom artigo do fim de semana está no Prosa & Verso do Globo. José Castello fala de um poeta pouco conhecido: Gustavo de Castro e de seu livro recém publicado “Poemas vis”. Dá vontade de comprar o livro na hora, e ler por inteiro os poemas que tem entre seus versos:
“Oh Vera
Nem toda maçã
Apodrece
Nem toda laranja
É de sumo
Nem todo limão emagrece.
Nem sempre a verdade
É a realidade
Vera.(...)
O real que se vê
Não se crê
Vera.”
De repente, formigas, maturidade, realidade e verdade – tudo parece morar no mesmo formigueiro.
*
Foto de Richard Avedon. Ele fotografou (muito) o pai, durante os 7 anos que antecederam sua (do pai) morte.