quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Deleuze: "Sexta-feira deveria comer Robinson"

Nos anos 50 Deleuze escreveu o texto “Causes et raisons des îles désertes” destinado a um número especial de uma revista sobre 'ilhas desertas". O texto finalmente só veio a ser publicado em 2002 no livro "L’île déserte et autres textes":
"...Sonhar com ilhas, pouco importa se com angústia ou alegria, é sonhar que se separa, que já se está separado, longe dos continentes, que se está só e perdido – ou então é sonhar que se volta à estaca zero, que se recria, que se recomeça..."
E sobre Robinson Crosué ele escreveu: "É difícil imaginar um romance mais tedioso, é uma tristeza ainda ver crianças a lê-lo. A visão do mundo de Robinson reside exclusivamente na propriedade, jamais se viu proprietário tão moralizante. A recriação mítica do mundo a partir da ilha deserta deu lugar à recomposição da vida cotidiana burguesa a partir de um capital. Tudo é tirado do navio, nada é inventado, tudo é penosamente aplicado sobre a ilha. O tempo é tão somente o tempo necessário ao capital para render um benefício como resultado de um trabalho. E a função providencial de Deus é garantir o retorno. Deus reconhece os seus, as pessoas de bem, porque elas têm belas propriedades, os maus, porque têm más propriedades, mal cuidadas. O companheiro de Robinson não é Eva, mas Sexta-Feira, dócil para o trabalho, feliz de ser escravo, que enjoa rápido demais da antropofagia. Todo leitor são sonhará vê-lo enfim comer Robinson."
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O texto de Deleuze é ótimo, achei ele na íntegra e em português aqui: http://www2.unijui.tche.br/~aslemos/cc/deleuze.htm
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Este é outro náufrago famoso (patrocinado pela Fedex) - assim como Robinson Crusoé, ele contou o tempo como contam os prisioneiros...
Continua o texto: "Se bem que a única resposta à questão que é cara aos antigos exploradores, “que seres existem sobre a ilha deserta?”, é que o homem já lá existe, mas um homem pouco comum, um homem absolutamente separado, absolutamente criador, em poucas palavras, uma Idéia de homem, um protótipo, um homem que seria quase um deus, uma mulher que seria uma deusa." Terá Brooke Shields lido Deleuze?