por ALBERTO MORAVIA, 1960
Quem sobe na montanha do Corcovado e se debruça sobre a plataforma na qual o horrível, gigantesco Cristo abre os braços em direção ao céu, tem uma vista quase completa do Rio.
É uma vista pitoresca e incrível, mas desprovida de unidade; cheia de acidentes e de particularidades surpreendentes, mas sem uma imagem clara; difusa e complicada, mas sem um centro. Vêm à mente os cenários naturais de certos retratos ou composições renascentistas, de uma fantasia mitológica e evocativa; só que aqui a natureza superou até a invenção mais fabulosa. Montanhas eretas e nuas de formato estranho, águas que se insinuam entre as montanhas, desfiladeiros estreitos em que se escondem arranha-céus, lagoas rodeadas de jardins, o oceano pontilhado de ilhas e ilhotas, a floresta tropical densa e rugosa como um casaco de pele, parques quadrados e estádios esportivos redondos, um cemitério com todas as cruzes, fechado entre as paredes quase verticais de um barranco, bairros com as casas alinhadas ao longo de ruas retas como espadas ou amontoadas em colinas arredondadas semelhantes a formigueiros; tudo assombra e atrai, mas ao mesmo tempo escapa de uma visão de conjunto. Esta é a verdadeira cidade tentacular, segundo a velha e exagerada imagem. Mas os tentáculos de casas que se insinuam por toda parte entre as inclinações das montanhas e se lançam para o mar não parecem ter início em nenhum lugar. O único traço comum entre todos esses elementos espalhados é a faixa branca das praias que contorna fielmente as saliências e entradas do golfo. E toda a cidade parece descer e convergir em direção a essas praias, como para o seu ponto de encontro ideal. Assim, também desta altura, o caráter do Rio logo vem à tona. É aquele de uma imensa Cannes ou Biarritz, de uma enorme cidade balneária. Descemos do Corcovado, nos dirigimos a uma daquelas praias, Copacabana por exemplo. Estamos diante de uma vasta praia em forma de curva, [...] em torno da qual se alinham, paralelos, o oceano verde, a praia bucólica, a pista cinzenta do asfalto e a fileira dos altos edifícios brancos. O dia está calmo e, embora seja inverno, a praia parece lotada. Homens de sunga, bronzeados e nus, correm atrás de uma bola na praia, mulheres em biquíni passeiam ou se deitam na areia tomando sol. Na calçada, uma multidão que parece ser de veranistas caminha a passos lentos, ociosa e contemplativa. Automóveis grandes e luxuosos percorrem as ruas, levando nos amplos assentos mulheres pequeninas e muito morenas ou grupos de homens com fisionomias irascíveis e olhos entristecidos e encobertos. Sempre e nunca em férias Os edifícios que se alinham a perder de vista em torno do mar e da praia e se perdem na distância brumosa são novinhos em folha; têm o caráter luxuoso, brilhante, efêmero e monótono próprio dos produtos da especulação imobiliária. São prédios de moradia para gente rica, edifícios residenciais; no andar térreo ficam os acessos esplendorosos para hotéis e restaurantes, vitrines de lojas de moda, joalherias, antiquários. Da avenida à beira-mar partem, em ângulo reto, ruas transversais também ladeadas por edifícios modernos, com lojas de luxo no térreo; são ruas curtas que terminam bruscamente na lateral de montanha com a qual o Rio se confunde. Na verdade, Copacabana não é nada além de uma faixa de construções alinhadas ao longo da praia que justifica e alimenta a sua existência. Justamente como Viareggio, Cannes, Biarritz, o Lido. Este lindíssimo passeio é percorrido com a sensação de estar em férias e com a certeza de que as outras pessoas têm a mesma sensação. Mas é uma sensação equivocada: o Rio nunca está em férias, justamente porque está sempre em férias. Com isso queremos dizer que, enquanto nas cidades balneárias da Europa o clima de férias dura cerca de três meses e nos outros nove volta a atmosfera simples, séria e enfadonha da província, aqui no Rio a temporada balneária se prolonga durante todo o ano. E não só porque as praias estão cheias o ano todo e ir à praia parece ser o principal objetivo do dia; mas também porque, ao longo do ano inteiro, continua o clima de férias na cidade. Não são, contudo, férias ocasionais e sem vínculo com a estação do ano, mas sim de cunho social e histórico. As férias próprias de determinadas fases da civilização e que podem durar até séculos. O que significa essa definição do Rio como uma imensa cidade balneária? Observando bem, o caráter muito particular que a cultura europeia assumiu após ter sido transplantada para essas praias é um indício do que isso significa. O que é na verdade uma cidade balneária? É um lugar de distração, de divertimento, de evasão, de sensualidade, de despreocupação, de irresponsabilidade; mas sem dar a essas palavras um sentido alegre. Ao contrário, os balneários são frequentemente muito melancólicos. Este era, justamente, o caráter das cidades do período alexandrino, na Antiguidade, ou seja, daquelas cidades em que a cultura antiga foi catalogada, embalsamada, divulgada e reunida com objetivos práticos e hedonistas, em um clima de cosmopolitismo mercantil. Alexandria, Éfeso, Antioquia, Pérgamo e tantas outras cidades do Oriente helenístico não deveriam ser muito diferentes do Rio. Mistura de raças, importância obsessiva do dinheiro, busca ansiosa do prazer, sensualidade, luxo, politicagem, intrigas financeiras, administrações ineficientes, festas frenéticas, fanatismo esportivo, todas essas características do Rio são encontradas nas cidades do período alexandrino. Cultura transplantadaUm morador de Alexandria, no Egito, teria certamente compreendido melhor a explosão do Carnaval carioca ou o furor esportivo no estádio do Maracanã do que um cidadão da Atenas arcaica ou da Roma republicana. O que eram, em resumo, essas cidades antigas que nos deixaram uma lembrança tão precisa de um certo tipo de vida e civilização que, justamente por eles, foi chamada de alexandrino? O que elas não eram? Com certeza eram centros de difusão e divulgação de uma cultura transplantada, colonial e já em decadência. Não eram cidades em que aquela mesma cultura poderia ter tido suas origens, ter desabrochado com suas primeiras flores virgens. É certamente um fato obscuramente significativo que, enquanto os primitivos dos países europeus são realmente primitivos, os primitivos do Brasil são, ao contrário, os barrocos, isto é, os decadentes da Europa. Isso está presente na consciência dos brasileiros; tanto isso é verdade que se tentou remontar a outras origens, aos índios pré-colombianos que Cabral encontrou na sua chegada a esta terra. Mas os índios brasileiros não chegaram a ser nem ao menos primitivos; entre todos os ameríndios, eram os mais desprovidos e nus: e assim, na realidade, o Brasil começa onde termina a Europa renascentista. A semente plantada pelos conquistadores portugueses nesta terra demasiado fértil era uma semente de maturidade, se não de decadência; isso explica a naturalidade com a qual, nos últimos tempos, se passou, no Brasil, da igreja barroca ao arranha-céu. O gigantismo, o informal, o coletivismo da cultura moderna de massa tiveram o caminho aberto graças à falência do humanismo renascentista, que foi incapaz de dominar a natureza desmedida e selvagem deste país. O verdadeiro Brasil não é Olinda, pequena cidade morta que levou três séculos para cobrir com lindos edifícios e igrejas uma ou duas colinas: mas São Paulo, que em poucos anos e por força dos arranha-céus saltou de meio milhão a 4 milhões de habitantes. No Rio, o Brasil de Olinda e o de São Paulo coexistem e, pode-se dizer, refletem com eloquência a passagem de uma decadência de tipo europeia, resignada e melancólica, a uma de tipo americana, violenta, opulenta, veemente e triunfante. Partida Ao falar sobre decadência, é preciso entender o sentido a dar a essa palavra. Há um na Europa, uma vez que lá ainda sobrevivem os modos de vida e os monumentos do passado; outro na América, onde esse passado não existe, e a decadência se compara à planície ou à floresta. Resumindo, decadência, termo negativo na Europa, aqui se torna positivo e talvez devesse ser substituído por outro mais apropriado. Nesse sentido, é correto falar do Brasil como de um país do futuro, destinado a ainda mudar de cara muitas vezes antes de assumir sua fisionomia definitiva. Confirmando essa sensação de mistura de aspereza e decadência, lembro-me da partida do Rio e do Brasil. Às 11 horas da manhã, o avião que deveria levar-me em nove horas do Rio a Nova York levantava com um voo silencioso e aparentemente imóvel no céu sobre a baía. Uma cidade imensa, que fervilha e que revelava ser muito populosa, surgia aos poucos entre as montanhas escuras e o oceano verde e luminoso. Depois a aeronave tomou a direção do norte, o Rio desapareceu e começou a solidão do Brasil, com o litoral interminável sem um porto, sem vilarejo, tristemente verde e denso, decorado por espumas brancas, às vezes interrompidas pelas margens vazias de um rio cujo curso cintilante e serpentiforme subia a montanha em meio ao verde monótono do planalto. Era um dia tranquilo, voávamos a 10 mil metros de altitude, via-se o Brasil nitidamente, como em um mapa geográfico: e via-se que o Brasil era vazio. Os únicos indícios de presença humana eram os longos e tristes sinais dos incêndios que surgiam aqui e ali na floresta. Então, poucas horas depois, o céu começou a ficar nublado e o voo continuou entre colunas de nuvens, sob catedrais de nuvens, sobre pavimentos de nuvens. De vez em quando esses edifícios aéreos brancos abriam-se numa fresta verde e então se via novamente o Brasil, com a sua floresta e os seus rios, mais vazio que nunca. No final, por volta do entardecer, através de uma fresta maior apareceu o rio Amazonas, símbolo fluvial do Brasil despovoado: uma longa, preguiçosa, opaca, enorme mancha amarelada com a forma e a expressão imóvel e maligna de uma grande pele de anaconda, deitada sobre a cobertura verde e densa da floresta. Do lado mais alto, a pele da anaconda se espremia e ficava perdida entre as névoas do crepúsculo; na direção do mar, alargava-se e dividia-se exatamente como uma pele de serpente que teve a cabeça cortada. Essa imagem majestosa e hostil se sobrepôs então àquela do Rio e complementou a lembrança.
A íntegra deste texto foi publicada no "Corriere della Sera" em 5 de outubro de 1960.
Tradução Adriana Marcolini.