sábado, 6 de março de 2010

Trecho


“...É com mágoa que o constato? Com medo? Com resignação? Não sei. Talvez se trate da soma de todas essas coisas, um terço de mágoa, um terço de medo, um terço de resignação, ou três quintos de mágoa, um quinto de medo, um quinto de resignação, de qualquer modo nem mágoa, nem medo, nem resignação detêm a marcha inexorável do tempo. Fica a esperança de que um dia – ou uma noite, de preferência uma noite – alguém lembre de mim, alguém fale de mim para um atento e interessado auditório. Animado por essa tênue esperança, assino meu nome no pergaminho, guardo-o na ânfora. Encerrada a tarefa, entrego-me às fantasias e ao devaneio. Fantasia e devaneio que para mim, representam o princípio e o fim de todas as coisas, e que são a matéria-prima deste manual da paixão solitária.”
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Manual da Paixão Solitária.
Moacyr Scliar
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Judah_tamar
O livro de Scliar reinterpreta o capítulo 38 do Gênesis.
A pintura de 1650 da escola de Rembrandt mostra Judá e Tamar, personagens da passagem.
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