Conte até dormir
sem pular nenhum número
um a um, conte
sem contar com coisa
alguma, em silêncio
conte o que sente, conta
por conta, o suicídio
de cada algarismo
a desoras, não desista
continue a contar até o fim
o conto íntimo do seu dia
até dormir, dormente
a noite inteira, e perder
de uma vez, a hora de acordar.
*
in Lar, de Armando Freitas Filho, poema 92, para Camilo