Este é um poema de amor
por isso nele
não poderá faltar
a menção a alguma
flor e por isso digo
rosa
ou lírio
ou simplesmente
rubro,
rubro
e espero as páginas
imantarem-se
de vermelho
por isso digo
febre
e noite
e fumo
para dizer
ansiedade e
desperdício de sêmen e de horas
e cigarros à janela
acesos como estrelas
com a noite numa ponta
e nós
consumindo-nos
na outra
este é
definitivamente
um poema de amor
por isso nele
devo dizer casa
e olhos
e neblina
e não devo dizer
que o amor é uma doença
uma doença do pensamento
uma desordem que põe tudo o mais
em desordem
uma perda que põe tudo
a perder
e porque é
um poema de amor
sob pena de ser devolvido
como uma carta sem destinatário
(e todos sabem que não se deve
brincar com os correios)
este poema deve dirigir-se
a alguém
porque a alguém o amor deve ferir
com sua pata negra
e então
à falta de outro
este poema
eu o dedico
(mas não tema,
o tempo
também nisso porá termo)
a você.
Copiei colei da Folha de domingo: Ana Martins Marques é mineira de 32 anos, de BH: "Escrevo desde criança, mas demorei a decidir publicar. Em 2007, ganhei o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, na categoria "Poesia - autor estreante"; e em 2008, recebi novamente o mesmo prêmio, na categoria "Poesia". Foram essas premiações, em grande parte, que me levaram a pensar numa publicação.