A sentença de morte de uma praça, por Ignez Barretto e Newton Carvalho
Ignez Barretto e Newton Carvalho, moradores de Ipanema
A Construtora Norberto Odebrecht (CNO), empresa líder do Consórcio Rio Barra, o Governo do Estado do Rio de Janeiro e o INEA já sabiam que a aplicação do método vala aberta ou invertida na construção da estação do metrô na praça N. Sra. da Paz, em Ipanema, seria a sentença de morte deste importante patrimônio ambiental, histórico e social, e também que o método subterrâneo é perfeitamente viável e factível no subsolo do local.
A empresa do grupo inglês (CH2M Hill \ Halcrow) apresentou um projeto ruim tanto pela total despreocupação com o meio ambiente, a sustentabilidade do bairro, assim como pelo aspecto social da praça que com os acessos mal localizados matarão também a sua função de praça, essencial para a comunidade.
Essa empresa não teve o menor cuidado em ouvir a população, respeitar o tombamento da praça, preservar o patrimônio histórico, cultural, ambiental e a sustentabilidade do bairro, entre outros pontos.
O lançamento intensivo de lama bentonítica no subsolo, exigido pela vala aberta, termina deixando o terreno remanescente como uma espécie de “massa cimentada”.
O resultado é que mesmo as árvores que não serão cortadas e todas de dentro e do entorno da praça, nas ruas Barão da Torre, Maria Quitéria, Visconde de Pirajá e Joana Angélica, poderão acabar mortas.
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
É bom lembrar que na Rua Barão da Torre, mais ou menos um ano após o final das obras da estação de metrô General Ozório, estranhamente todas as árvores da rua morreram.
Segundo a CNO, a adoção agora do método subterrâneo “arco celular” pode implicar no atraso de 12 meses para a entrega da Estação Nossa Senhora da Paz. Ora, a população vem há quase um ano propondo a mudança no método. Por que não foi ouvida?
E nós sabemos que ainda há tempo para alternativas, sem alterar muito os custos e a infraestrutura montada para a operação do TBM.
A estação de metrô "Venezia", em Milão, com acabamentos, escadas rolantes, bilheteria e tudo mais. custou 56 milhões de euros, ou seja, R$ 145.600 milhões, preço bem diferente do que está afixado nas placas da obra na N. Sra. da Paz!
A falta de transparência, o desprezo pelo diálogo e pela opinião da população, a incompetência e o sentimento de impunidade estão assinando a sentença de morte da praça e mais grave ainda, a da cidadania, que no caso tem sido exercida exemplarmente.