quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
Flow my Tears_John Dowland
Flow, my tears, fall from your springs! Exiled for ever, let me mourn; Where night's black bird her sad infamy sings, There let me live forlorn. / Down vain lights, shine you no more! No nights are dark enough for those That in despair their lost fortunes deplore. Light doth but shame disclose. / Never may my woes be relieved, Since pity is fled; And tears and sighs and groans my weary days Of all joys have deprived. / From the highest spire of contentment My fortune is thrown; And fear and grief and pain for my deserts Are my hopes, since hope is gone. / Hark! you shadows that in darkness dwell, Learn to contemn light Happy, happy they that in hell Feel not the world's despite.
Rubem Braga_Opala
Vieram alguns amigos. Um trouxe bebida, outros trouxeram bocas. Um trouxe cigarros, outro apenas um pulmão. Um deitou-se na rede, e outro telefonava. E Joaquina, de mão no queixo, olhando o céu, era quem mais fazia: fazia olhos azuis.
Já do Observatório me haviam telefonado: “Vento leste, águas para o Sul, atenção senhores cronistas distritais, o diretor avisa que Joaquina hoje está fazendo olhos azuis.”
Às 19:00 enviei esta mensagem: “Confidencial para o Diretor. Neste momento uma pequena nuvem a boroeste deste apartamento dá uma tonalidade levemente cinza ao azul dos olhos de Joaquina, que está meditando nessa direção. A bordo, todos distraídos, mas este Cronista Distrital mantém sua eterna vigilância. Lábios sem pintura de um rosa muito pálido combinam perfeitamente tonalidades cinza do azul referido.”
A voz roufenha do Diretor: “Caso necessário, dispomos de um canteiro de hortênsias, tipo Independência Petrópolis, igualmente duas ondas de Cápri, às cinco da tarde de agosto de 1951, considerada uma das melhores safras de azul de onda último quarto de século.”
Respondo secamente: “Desnecessário. “
À noite sentimos que o apartamento estava mal apoiado no bairro e derivava suavemente na direção da lua. Às seis da manhã havia uma determinada tepidez no ar quase imóvel e duas cigarras começaram a cantar em estilo vertical. Às sete da manhã seis homens vieram entelhar o apartamento vizinho, e um deles assobiava uma coisa triste. Então uma terceira cigarra acordou, chororocou e ergueu seu canto alto e grave como um pensamento. Sobre o mar.
Joaquina dormia inocente dentro de seus olhos azuis; e o pecado de sua carne era perdoado por uma luminescência mansa que se filtrava nas cortinas antigas. Havia um tom de opala. Adormeci.
Já do Observatório me haviam telefonado: “Vento leste, águas para o Sul, atenção senhores cronistas distritais, o diretor avisa que Joaquina hoje está fazendo olhos azuis.”
Às 19:00 enviei esta mensagem: “Confidencial para o Diretor. Neste momento uma pequena nuvem a boroeste deste apartamento dá uma tonalidade levemente cinza ao azul dos olhos de Joaquina, que está meditando nessa direção. A bordo, todos distraídos, mas este Cronista Distrital mantém sua eterna vigilância. Lábios sem pintura de um rosa muito pálido combinam perfeitamente tonalidades cinza do azul referido.”
A voz roufenha do Diretor: “Caso necessário, dispomos de um canteiro de hortênsias, tipo Independência Petrópolis, igualmente duas ondas de Cápri, às cinco da tarde de agosto de 1951, considerada uma das melhores safras de azul de onda último quarto de século.”
Respondo secamente: “Desnecessário. “
À noite sentimos que o apartamento estava mal apoiado no bairro e derivava suavemente na direção da lua. Às seis da manhã havia uma determinada tepidez no ar quase imóvel e duas cigarras começaram a cantar em estilo vertical. Às sete da manhã seis homens vieram entelhar o apartamento vizinho, e um deles assobiava uma coisa triste. Então uma terceira cigarra acordou, chororocou e ergueu seu canto alto e grave como um pensamento. Sobre o mar.
Joaquina dormia inocente dentro de seus olhos azuis; e o pecado de sua carne era perdoado por uma luminescência mansa que se filtrava nas cortinas antigas. Havia um tom de opala. Adormeci.
Janeiro, 1953
sábado, 26 de janeiro de 2013
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Lucio Cardoso_Crônica da Casa Assassinada_trecho:
"Amar, amei outras vezes, mas como se fosse um eco desse primeiro amor. Não são pessoas diferentes as que amamos ao longo da vida, mas a mesma imagem em seres diferentes. Também me desesperei de outras vezes, até que me desesperasse não mais o amor, mas o fato humano. E agora que este pobre caderno veio novamente ter às minhas mãos, entre outros restos dessa casa que não existe mais, digo a mim mesmo que realmente não há grande diferença entre aquele que fui e o que sou hoje – só que, com o tempo, aprendi a domar aquilo que no moço ainda era puro desespero; hoje , calado, sofro ainda, mas sem aquela escuridão que tantas vezes me atirou contra as quatro paredes de mim mesmo, enfurecido – e que no seu desvario era apenas a tradução adolescente desse fundo terror humano de perder e ser traído, que nos acompanha, ai de nós, durante a existência inteira."
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
domingo, 20 de janeiro de 2013
Minha História_Maurício Almeida
"Cego de nascença, brasileiro cresce lutando por autonomia, vai estudar nos EUA, monta empresa
e divide experiências pela web."..
LEIA ARTIGO AQUI
sábado, 19 de janeiro de 2013
Manuel Bandeira_Namorados
"O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca."
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca."
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Agustina Bessa-Luís
A Capacidade de Adaptação dos PortuguesesOs observadores estrangeiros maravilham-se de que Portugal resista à crise política e económica com tal poder de adaptação. Há nos Portugueses uma sinceridade para com o imediato que desconcerta o panorama que transcende o imediato. O infinito é o que eu situo - dizem. E assim vivem. Protegidos talvez por essa condição de afecto pelas coisas, pelos seus próprios delitos, que não consideram dramáticos, só ao jeito das necessidades. De resto — quem se apresenta a salvar-nos que não esteja suspeitamente indignado? Os que muito se formalizam muito escondem; os que acusam demasiado privam-se de ser leais consigo próprios. O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo. in "Dicionário Imperfeito"+ AgustinaWikipedia: Agustina_Bessa-Luís
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Rubem Braga_O Pavão
"Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico."
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico."
in "Ai de ti, Copacabana"_Editora do Autor_Rio de Janeiro_1960
domingo, 13 de janeiro de 2013
Frans Post_1612-80 + Rubem Braga-1913-90
"À esquerda, um mandacaru ergue os braços, entre as pedras, na beira do rio, há um matinho miúdo, uma cabaça, três flechas de ubá - e uma capivara. Do outro lado da água, um barco, umas casinhas, um caminho que sobe um morro, onde há alguma coisa que deve ser um forte defendendo a entrada do rio. Tudo minucioso e ingênuo no primeiro plano - mas há, nesse mundo de água e céu, nesses morros baixos e distantes do outro lado do rio, a tristeza dos espaços brasileiros."
Rubem Braga in Retratos Parisienses citado por Augusto Massi_Velho Mundo, jovem Braga/Folha.
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