“Confesso que sou muito fraco para a capital russa. Que
posso fazer? Fiquei muito acostumado a ela! Tudo é caro para o meu coração em
Petersburgo, e fora dela, a vida para mim, é absolutamente impossível. Quando
tenho dinheiro no bolso, sempre o sacrifico para os prazeres. É vil, é tolo –
eu sei. Raciocinando rigorosamente, não posso desviar dinheiro para
divertimentos: tenho dívidas desmedidas que exigem pagamento, tenho
necessidades básicas, mas (e de novo por causa da fraqueza) não ligo para nada
e me alegro. Assim é o meu caráter. Como vou acabar? O que me promete o futuro?
Tenho medo de pensar nisto. Sei que, mais cedo ou mais tarde (antes mais cedo),
não serei capaz de lutar contra o lado difícil da vida e quebrar-me-ei em
pedaços. Até a chegada deste momento, deleito-me em viver a vida na medida do possível,
e sacrifico tudo pelo prazer. Mas já
fazem duas semanas que me cerco de desgraças. Tudo vai mal: no serviço, os “rublinhos”
já se evaporaram todos. No amor, infelicidade. Mas tudo são tolices e virá um
momento em que tudo será alegre de novo. Às vezes até chego a chorar um pouco,
depois vou caminhar pela Nevsky e volto para casa mesmo a pé – e já me distraí.”
trecho de carta do compositor quando jovem_in Piotr Tchaikovsky_Biografia_de Alexander Poznansky_tradução Alexey Lazarev_G.Ermakoff Casa Editorial.