terça-feira, 31 de julho de 2012
domingo, 29 de julho de 2012
Gasiorowski_1986_detalhe
http://fr.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9rard_Gasiorowski
aquele que se perdeu na sua paixão
perdeu menos
do que aquele que perdeu sua paixão
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Sr.R no OGlobo de hoje: "Groenlândia perde até 97% de sua cobertura de neve"
"Levaremos para o lugar gelado, em nossas malas, gramas verdes colhidas de uma poesia para verdejar a terra branca, e nossa barba branca ficará longa e quem dera, sábia como a do poeta barbudo.
Tiraremos uma foto à beira de um fiorde tranbordante de icebergs desmilinguidos, drinks on the rocks em fim de festa. As cinzas de nossa fotografia serão levadas por um vento forte e pousarão sobre pedrinhas de gelo pequenas, cada vez menores."
terça-feira, 24 de julho de 2012
Cecília Meireles
“É mais facil pousar o ouvido nas nuvens e sentir passar as estrelas do que prende-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.”
segunda-feira, 23 de julho de 2012
domingo, 22 de julho de 2012
sábado, 21 de julho de 2012
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Kris_Martin_T.F.F.S.H._2009
T.Y.F.F.S.H., 2009
hot air balloon, ventilators, Dimension variable
collection Mimi and Filiep Libeert, Courtesy Johann König, Berlin, Sies + Höke, Düsseldorf, Marc Foxx, Los Angeles
exhibition view Aargauer Kunsthaus Aarau, Photo: DOMINIC BÜTTNER, Zurich
http://www.sieshoeke.com/artists/kris-martin/
Kris Martin_I Am not an Idiot, 2010
I Am not an Idiot, 2010
found pebbles, dimensions variable
private Collection, Cologne
photo: ACHIM KUKULIES, Düsseldorf
http://www.sieshoeke.com/artists/kris-martin/
Fernando Pessoa_Viajar?
"Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
(...)
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos."
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
(...)
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos."
No Ceará, outro dia...
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Leandro Machado_De repente, classe C
Sou ex-pobre. Todos querem me vender geladeira agora. O trem ainda quebra todo dia, o bairro alaga. Mas na TV até trocaram um jornalista para me agradar.
Eu me considerava um rapaz razoavelmente feliz até descobrir que não sou mais pobre e que agora faço parte da classe C.
Com a informação, percebi aos poucos que eu e minha nova classe somos as celebridades do momento. Todo mundo fala de nós e, claro, quer nos atingir de alguma forma.
Há empresas, publicações, planos de marketing e institutos de pesquisa exclusivamente dedicados a investigar as minhas preferências: se gosto de azul ou vermelho, batata ou tomate e se meus filmes favoritos são do Van Damme ou do Steven Seagal.
(Aliás, filmes dublados, por favor! Afinal, eu, como todos os membros da classe C, aparentemente tenho sérias dificuldades para ler com rapidez essas malditas legendas.)
A televisão também estudou minha nova classe e, por isso, mudou seus planos: além do aumento dos programas que relatam crimes bizarros (supostamente gosto disso), as telenovelas agora têm empregadas domésticas como protagonistas, cabeleireiras como musas e até mesmo personagens ricos que moram em bairros mais ou menos como o meu.
A diferença é que nesses bairros, os da novela, não há ônibus que demoram duas horas para passar nem buracos na rua.
Um telejornal famoso até trocou seu antigo apresentador, um homem fino e especialista em vinhos, por um âncora, digamos, mais povão, do tipo que fala alto e gosta de samba. Um sujeito mais parecido comigo, talvez. Deve estar lá para chamar a minha atenção com mais facilidade.
As empresas viram a luz em cima da minha cabeça e decidiram que minha classe é seu novo alvo de consumo. Antes, quando eu era pobre, de certo modo não existia para elas. Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha nome nem capital razoável.
De modo que agora elas querem me vender carros, geladeiras de inox, engenhocas eletrônicas, planos de saúde e TV por assinatura. Tudo em parcelas a perder de vista e com redução do IPI.
E as universidades privadas, então, pipocam por São Paulo. Os cursos custam R$ 200 reais ao mês, e isso se eu não quiser pagar menos, estudando à distância.
Assim como toda pasta de dente é a mais recomendada entre os dentistas, essas universidades estão sempre entre as mais indicadas pelo Ministério da Educação, como elas mesmas alardeiam. Se é verdade ou não, quem pode saber?
E se eu não acreditar na educação privada, posso tentar uma universidade pública, evidentemente. Foi o que fiz: passei numa federal, fiz a matrícula e agora estou em greve porque o campus cai aos pedaços. Não tenho nem sala de aula.
Não que eu não esteja feliz com meu novo status de consumidor, não deve ser isso. (Agora mesmo escrevo em um notebook, minha TV tem cem canais de esporte e minha mãe prepara a comida num fogão novo; se isso não for felicidade, do que se trata, então?)
O problema é que me esforço, juro, mas o ceticismo ainda é minha perdição: levo 2h30 para chegar ao trabalho porque o trem quebra todos os dias, meu plano de saúde não cobre minha doença no intestino e morro de medo das enchentes do bairro.
Ou seja, ao mesmo tempo em que todos querem me atingir por meu razoável poder de consumo, passo por perrengues do século passado. Eu e mais de 30 milhões de pessoas -não somos pobres, mas classe C.
Deixa eu terminar por aqui o texto, porque daqui a pouco vão me chamar de chato ou, pior, de comunista. Logo eu, que só li Marx na versão resumida em quadrinhos. Fazer o quê, se eu gosto é de autoajuda?
Leandro Machado, 23, é estudante de letras na Universidade Federal de São Paulo, mora em Ferraz de Vasconcelos (SP) e escreve no blog Mural, da Folha
Antonio Prata_Sapatos
Sexta a tia Clara ligou avisando: se eu quisesse procurar pelos sapatos do tio Estevão tinha que chegar cedo, no dia seguinte. À tardinha vinham os filhos, levariam os pertences que lhes interessassem e o resto seria doado ao Lar Escola São Francisco. Nove da manhã de sábado eu tocava a campainha, pronto para começar a minha busca.
Poucos objetos estiveram mais ligados a uma pessoa do que aqueles sapatos ao meu tio Estevão. Dos 84 anos que passou sobre a Terra, 60 foram calçando o mesmo modelo. Difícil descrevê-los, não porque tivessem algo de excêntrico, mas por serem demasiadamente comuns -se é que algo pode ser demasiadamente comum: eram de couro preto, quatro furos pro cordão, sola de madeira, salto de borracha. No colegial, quando aprendi sobre o mundo inteligível de Platão, aquele no qual residiriam os ideais de todas as coisas, logo pensei nos sapatos do tio Estevão, os paradigmáticos sapatos do tio Estevão pairando lá no alto, muito acima dos canos altos, Melissinhas, escarpins e outras sombras projetadas na balbúrdia da caverna.
Meu tio não gostava de balbúrdia. Casou-se com a namorada da escola, teve um filho e uma filha, foi fiel à esposa, à marca de desodorante, ao nó da gravata, à sopa no jantar -e, claro, aos sapatos. Descobriu-os numa viagem à Franca, a trabalho, em 1952. Muitos anos atrás, num Natal, contou-me que bastou calçá-los para saber que "aquela questão, pelo menos, estava resolvida". Lembro que achei graça em sua postura, como se a vida consistisse numa série de questões a serem resolvidas, uma lista na qual fôssemos ticando as colunas. Casamento: risca. Carreira: risca. Filhos: risca. Sapatos: risca.
Como o trabalho o levava todo ano à Franca, tio Estevão comprava um par a cada viagem e assim viveu tranquilo -pelo menos, no que se referia àquela "questão"- até 1990, quando o mercado abriu-se para o mundo e a fábrica, incapaz de competir com a concorrência chinesa, faliu. O dono, a essa altura já amigo do meu tio, telefonou-lhe para lamentar-se, para maldizer o governo, os chineses, a vida e avisar que os últimos pares do estoque eram seus. Vinte e dois pares, um presente por 38 anos de fidelidade.
Meu tio brincava, desde então, para desespero da tia Clara, que quando o último par se gastasse ele morreria. Segundo minha tia, na segunda-feira à noite ele sentou-se na cama, olhou os sapatos em petição de miséria e, calmo, como se viesse há muito se preparando para aquele momento, disse: "Já era". No dia seguinte, comentou, iria provar uns mocassins -mas não chegou a ver o dia seguinte.
Na manhã de sábado, revirei cada gaveta, cada armário, cada cômodo da casa. Tinha a esperança de que, em sua última noite, meu tio não tivesse jogado no lixo os sapatos que o acompanharam pela vida inteira, houvesse guardado ao menos um pé, como lembrança.
Por que eu queria tê-lo? Seria um símbolo da persistência? Da teimosia? Da busca pela imanência em meio à transitoriedade? Não sei. Não os encontrei. Claro. Era de se esperar que um homem pragmático a ponto de passar 60 anos com o mesmo sapato não fosse de guardar velharias como souvenirs. As questões, quando se resolvem, se resolvem. Morte: risca.
Folha_18.07
Poucos objetos estiveram mais ligados a uma pessoa do que aqueles sapatos ao meu tio Estevão. Dos 84 anos que passou sobre a Terra, 60 foram calçando o mesmo modelo. Difícil descrevê-los, não porque tivessem algo de excêntrico, mas por serem demasiadamente comuns -se é que algo pode ser demasiadamente comum: eram de couro preto, quatro furos pro cordão, sola de madeira, salto de borracha. No colegial, quando aprendi sobre o mundo inteligível de Platão, aquele no qual residiriam os ideais de todas as coisas, logo pensei nos sapatos do tio Estevão, os paradigmáticos sapatos do tio Estevão pairando lá no alto, muito acima dos canos altos, Melissinhas, escarpins e outras sombras projetadas na balbúrdia da caverna.
Meu tio não gostava de balbúrdia. Casou-se com a namorada da escola, teve um filho e uma filha, foi fiel à esposa, à marca de desodorante, ao nó da gravata, à sopa no jantar -e, claro, aos sapatos. Descobriu-os numa viagem à Franca, a trabalho, em 1952. Muitos anos atrás, num Natal, contou-me que bastou calçá-los para saber que "aquela questão, pelo menos, estava resolvida". Lembro que achei graça em sua postura, como se a vida consistisse numa série de questões a serem resolvidas, uma lista na qual fôssemos ticando as colunas. Casamento: risca. Carreira: risca. Filhos: risca. Sapatos: risca.
Como o trabalho o levava todo ano à Franca, tio Estevão comprava um par a cada viagem e assim viveu tranquilo -pelo menos, no que se referia àquela "questão"- até 1990, quando o mercado abriu-se para o mundo e a fábrica, incapaz de competir com a concorrência chinesa, faliu. O dono, a essa altura já amigo do meu tio, telefonou-lhe para lamentar-se, para maldizer o governo, os chineses, a vida e avisar que os últimos pares do estoque eram seus. Vinte e dois pares, um presente por 38 anos de fidelidade.
Meu tio brincava, desde então, para desespero da tia Clara, que quando o último par se gastasse ele morreria. Segundo minha tia, na segunda-feira à noite ele sentou-se na cama, olhou os sapatos em petição de miséria e, calmo, como se viesse há muito se preparando para aquele momento, disse: "Já era". No dia seguinte, comentou, iria provar uns mocassins -mas não chegou a ver o dia seguinte.
Na manhã de sábado, revirei cada gaveta, cada armário, cada cômodo da casa. Tinha a esperança de que, em sua última noite, meu tio não tivesse jogado no lixo os sapatos que o acompanharam pela vida inteira, houvesse guardado ao menos um pé, como lembrança.
Por que eu queria tê-lo? Seria um símbolo da persistência? Da teimosia? Da busca pela imanência em meio à transitoriedade? Não sei. Não os encontrei. Claro. Era de se esperar que um homem pragmático a ponto de passar 60 anos com o mesmo sapato não fosse de guardar velharias como souvenirs. As questões, quando se resolvem, se resolvem. Morte: risca.
Folha_18.07
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